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15/10/2025 17:52
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Tilápia brasileira mira novos mares e vê oportunidades no exterior diante da alta chinesa

Tilápia Foto: Divulgação Embrapa

Um estudo da Embrapa mapeou o comportamento do mercado internacional de tilápia e acendeu o sinal verde para os produtores brasileiros. Entre desafios e oportunidades, o levantamento mostra que o peixe símbolo da aquicultura nacional pode conquistar espaço nos Estados Unidos e na Europa, impulsionado por mudanças globais na oferta e pelo aumento dos custos da tilápia chinesa.

Principal espécie cultivada e exportada pelo Brasil, a tilápia tem sustentado o avanço consistente da piscicultura no país. Ainda assim, o potencial segue longe do limite, graças às condições naturais favoráveis, como qualidade da água e disponibilidade de áreas para expansão.

Nesse cenário, A piscicultura de Mato Grosso do Sul também ganha destaque, e a tilápia se mantém como protagonista desse crescimento. De acordo com o Anuário da Piscicultura 2024, o estado produziu 38,4 mil toneladas do peixe no último ano, alta de 18,77% em relação a 2023, consolidando-se como o quinto maior produtor de tilápia do Brasil e o oitavo na criação de peixes em geral.

No panorama nacional, a tilápia representa 68,36% de toda a produção de peixes cultivados, somando 662,2 mil toneladas em 2024. Nesse cenário, Mato Grosso do Sul ampliou sua participação e se destaca como um dos polos mais promissores, respondendo historicamente por até 30% do volume de abates do país em determinados períodos.

Os cenários, porém, são distintos de um continente a outro. Enquanto o consumo europeu permanece tímido, com média anual de apenas 39 gramas por habitante, o mercado norte-americano mostra apetite muito maior: são 460 gramas por pessoa a cada ano.

“Nos Estados Unidos, chama a atenção a grande popularidade da tilápia junto aos consumidores em todo o país, o que tem proporcionado o crescimento do consumo de diversos produtos de tilápia, tanto frescos como congelados. A tilápia rompeu os nichos de mercados asiáticos e latinos e hoje é um produto consumido de maneira ampla”, explica o pesquisador Manoel Pedroza, da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO).

Já na Europa, o retrato é outro. “Percebemos um consumo de tilápia bem mais limitado, sendo focado nos nichos de mercados étnicos e em produtos congelados com preços mais reduzidos”, acrescenta o pesquisador.

Impacto do tarifaço e o avanço possível


Mesmo com o impacto do recente tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump, as exportações brasileiras para os Estados Unidos resistiram melhor do que o esperado. O volume embarcado em agosto deste ano, primeiro mês de vigência das novas tarifas, caiu 32% em relação ao mesmo período de 2024. “Especialistas do setor esperavam uma queda maior, e esse resultado mostra que o setor continua presente no mercado norte-americano, mesmo no cenário atual”, avalia Pedroza.

A pesquisa vê espaço para crescimento, sobretudo na exportação de tilápia congelada para os Estados Unidos, produto com demanda maior e potencial para ampliar a presença brasileira, hoje concentrada nos filés frescos. “Algumas empresas já vinham investindo na exportação de tilápia inteira e de filés congelados para os Estados Unidos, mas o tarifaço atrapalhou esse processo”, pontua o pesquisador.

Europa em reabertura e novas estratégias


Na Europa, a expectativa é de retomada gradual, com boas perspectivas para o filé fresco brasileiro. “Os exportadores brasileiros podem se beneficiar da boa reputação do filé fresco de tilápia do Brasil e também aproveitar a grande oferta de voos para diversos países da Europa, tendo em vista que o transporte aéreo é essencial para os produtos frescos. No entanto, será necessário um trabalho robusto de divulgação e desenvolvimento da demanda”, analisa Pedroza.

O estudo da Embrapa aponta que os exportadores devem apostar em diferenciação, reforçando a qualidade e a rastreabilidade do produto nacional, atributos cada vez mais valorizados pelos consumidores europeus. A alta recente da tilápia chinesa, pressionada pelos custos de ração e transporte, também tende a abrir espaço para o pescado brasileiro competir com espécies como panga, polaca do Alasca e perca do Nilo.

Desafios em águas internacionais


Nos Estados Unidos, as oportunidades incluem nichos premium, a queda na oferta de países concorrentes e o avanço dos produtos congelados e de maior valor agregado, como cortes especiais, empanados e embalagens prontas para consumo. Mas há obstáculos conhecidos: as tarifas, a necessidade de reduzir custos logísticos e a exigência crescente por certificações internacionais.

Na Europa, o desafio é tornar a tilápia mais conhecida, por meio de ações de marketing e presença em eventos do setor, além de manter preços competitivos sem abrir mão da qualidade.

Produção e desafios locais

Angela Schafer

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